segunda-feira, 20 de junho de 2011

Meu nome não é o meu nome...

Entrevistei um casal que está há mais de 20 anos juntos, ambos viúvos que juntaram suas duas famílias virando apenas uma, e uma coincidência engraçada os une ainda mais, bem...o vídeo fala por si só.

                        
Me desculpem pela qualidade do vídeo, mas o tempo estava para chuva, e foi feito com uma câmera digital, por isso que ele está meio escuro
                            

Por Alexandra Roth Carvalho
                              

Entrevista com Miguel Ferraz Dias (Vulgo Bob)

Em uma entrevista casual ele nos conta algumas histórias excêntricas da sua vida nesta conversa bem humorada e um pouco fora dos padrões jornalísticos.




Por Jeferson Dorneles

domingo, 19 de junho de 2011

Pedalar e Pedalar


Cabelo desajeitado, barba por fazer e algumas histórias loucas para contar, figura conhecida e que procura não aparecer muito. Esse é o personagem que pretendo retratar aqui, em detalhes, ou pelo menos aqueles que sei.
Pinhão, como é conhecido pelos amigos e até hoje não sei o nome verdadeiro, preferi não pedir para não dar seriedade à narração, e sim, mostrar realmente como o sujeito e sua história se desenvolvem.
Nas minhas idas à Unisinos, sempre tive conversas desinformais com o rapaz, sobre todo o assunto imaginado, desde política até literatura. Entre esses devaneios surgiram nomes como Allen Ginsberg e O uivo, até Jack Kerouac e On The Road.
E foi exatamente daí que puxei o fio da ninhada para a história. On The Road, é a história de Jack Kerouac viajando os EUA sem um puto no bolso, escritor que marcou o movimento beat com um texto cru poético e com poucas vírgulas.
Em uma das muitas idas que faço mensalmente, Pinhão contou-me sobre certa vez em que resolveu ir pedalando até Torres, passando por Cambará do Sul e suas belíssimas paisagens.
Já na casa  do rapaz, com o intuito de fazer a entrevista fui bem recebido pela sua família, subimos ao quarto do jovem. Um ambiente com muita paz, algumas esculturas e o livro Diários de Bicicleta na cabeceira.
Ele começa falando de cada uma das esculturas, o que é, e como foram feitas. "Tu vê na madeira já o formato de alguma coisa, seja um rosto, um objeto, eu só moldo em cima disso", declara Pinhão com uma simplicidade enorme, parecendo não reconhecer seu próprio talento.
Quando chegamos no assunto da viagem, vi uma certa animação quase que eufórica por parte do rapaz querendo contar tudo ao mesmo tempo. Tendo saído de Bento Gonçalves às 18 horas de sexta e retornado às 4 da manhã de domingo, Pinhão percorreu 520 km de bicicleta em um final de semana.
Ele conta como é gratificante a linda paisagem do Cânion Fortaleza, depois de ter pedalado mais ou menos 180 Km. "A bicicleta proporciona isso, tu te torna parte do lugar, realmente vive aquilo!", fala sobre o banho de cachoeira que tomou no local. O rapaz que é muito apegado à natureza, conta com um certo espanto como o tempo mudou de um minuto pro outro quando estava lá em cima. "Parece que conspirou a nosso favor, o sol se escondeu logo depois de nós chegarmos no topo do cânion".
Pinhão conseguiu despertar minha curiosidade sobre o assunto de uma forma técnica. Foi quando perguntei a ele se exige muita resistência fazer uma viagem assim. "40% corporal, 60% mental", diz como se fosse uma atividade fácil e até rotineira.
Depois de uma pausa na conversa, nós nos deslocamos até a sacada do quarto, percebi que já tinha a pauta. Mas faltava algo, e entre conversas e conversas questionei sobre algo que tenha lhe chamado a atenção, marcado de alguma forma. Foi interessante a forma como Pinhão baixou a cabeça e buscou a lembrança no fundo da memória.
Contou-me sobre um carro que passou na beira da estrada em uma velocidade altíssima, alguns KM à frente encontrou o mesmo carro acidentado. Neste momento, Pinhão começa a fazer questionamentos profundos sobre toda pressa que a "sociedade do automóvel" vive no dia-a-dia.
Alguns KM à frente, em Lajeado Grande, o rapaz resolve tomar café em um posto, quando para um caminhoneiro com o carro acidentado na caçamba, e, interessado na história de Pinhão, lhe oferece carona até a cidade de Caxias do Sul. "Não aceitei, seria uma traição comigo mesmo, meu objetivo era ir e voltar pedalando", declara com tremenda determinação.
Em continuação a esse assunto, Pinhão indignado fala como não há espaço para ciclistas nas rodovias federais, e tem uma lei que proíbe andar de bicicleta nestes locais. "As vezes percebo que já perdemos até o direito de ir e vir".
Oitenta reais no bolso, barraca nas costas e uma bicicleta. Pinhão é um exemplo de como não precisamos de muito para aproveitar a vida realmente.

Por Lucas Araldi

sábado, 18 de junho de 2011

Porto Alegre aos olhos de um porto-alegrense

Foi em uma rua próxima de onde nasceu que nos encontramos, eu, a repórter, e Ricardo, o porto-alegrense que seria entrevistado. Ele, um cara simples, de cabelos grisalhos e mãos no bolso, segurando uma guia que levava a um cachorro da raça Beagle, começou então a conduzir-me pelas ruas calmas e quietas do bairro São João, na Zona Norte de Porto Alegre. Eu não podia para de indagar sobre o tipo de história que iria ouvir na próxima hora, pois Ricardo é conhecido por gostar de contar suas façanhas juventude afora por Porto Alegre. Enquanto nos dirigíamos a Rua Marcelo Gama, rua de seu nascimento, Ricardo ia me contando algumas histórias e a entrevista ia se desenrolando. Ao chegarmos na tão falada rua, foi notável a emoção com que Ricardo anunciou a chegada: “Chegamos, essa é a rua em que nasci.” E então, não conseguiu mais conter as lembranças de sua querida Porto Alegre que lhe vinham à mente. Algumas delas estão na entrevista a seguir:

O porto-alegrense, Ricardo, ao lado de uma placa da 
rua em que nasceu e cresceu, Marcelo Gama.
Bruna: Qual o teu nome completo e em que ano tu nasceste?
Ricardo: Ricardo da Silva Raupp, nasci em 1953.
B: Aqui em Porto Alegre?
R: Porto Alegre. Nasci na Rua Marcelo Gama, perto de onde moro agora.
B: Conte um pouco da tua infância aqui em Porto Alegre, se passou ela na capital.
R: Sim, passei em Porto Alegre, aqui na Marcelo [rua]. A vida era muito simples naquela época. A gente tinha uma vizinhança onde vivia bastante morador de longa data, a gurizada toda se dava bem, tínhamos uma turma grande que brincava na rua. As famílias, de noite, no verão, se sentavam na frente de casa pra conversar. Não tinha esse problema de criminalidade, de assalto. A vida era mais tranqüila.
B: Porto Alegre então era uma cidade tranqüila?
R: Sim, uma cidade bem tranqüila. É aquela coisa, a criança não ouve falar tanto dos problemas. Não havia esse diálogo com a criança. Hoje em dia , tem televisão, tem internet.
B: Hoje, tu consideras Porto Alegre uma cidade violenta?
R: Eu não considero violenta. Conforme o crescimento da cidade, os problemas crescem também. Existe o problema do crime, hoje em dia ele é muito noticiado, mas eu não vejo que ela seja tão violenta, tão perigosa assim.
B: Como era o colégio em Porto Alegre, na época em que tu o freqüentava? Como era a oportunidade de estudar?
R: Os primeiros anos eu estudei em escola particular, que era pertinho de casa, era na Igreja Sagrado Coração de Jesus. Depois, eu passei ao grupo escolar Benjamin Constant, que era uma escola do governo. Não tinha problemas de matrículas, não. Usava-se uniforme, mesmo no grupo escolar. Naquela época todos os colégios tinham uniformes. O grupo escolar exigia que se usasse um guarda-pó. As classes eram lotadas. Todos estudavam.
B: O que tu costumavas fazer para se divertir na infância?
R: Nós brincávamos na rua. A gente jogava taco, bolinha de gude. Brinquedos eram muito poucos. As brincadeiras eram todas mais coletivas na rua, perto de casa. No verão, que ficávamos até mais tarde na rua, brincávamos de esconder, de pegar.
B: Quantos anos tu tinha quando estourou a ditadura no Brasil?
R: Eu tinha 11 anos.
B: Tu lembras como foi isso em Porto Alegre?
R: Lembro de coisas que envolveram a minha família diretamente. Meu pai trabalhava no aeroporto e aí ele não votou pra casa. Ele não veio 3 dias pra casa. Eles ficaram detidos no aeroporto. O exército tomou conta e eles ficaram detidos. Isso depois a mãe me contou, porque perdi meu pai muito cedo. Depois de 3 dias ele voltou pra casa e contou pra mãe o que aconteceu: o pai era muito fã do Brizola, e enquanto eles estavam detidos, em um desses 3 dias, deram uma ordem pra que abastecessem e deixassem pronto um avião. Uma entrada lateral do aeroporto eles mandaram deixar aberta, mas não explicaram nada para ninguém. De repente, chegaram uns carros e entraram rapidamente, nesses carros estavam o Brizola e a sua esposa. Eles estavam fugindo. Foi quando eles foram pro Uruguai. Lembro que foi uma decepção pro meu pai, que acreditava que o Brizola ia defender o estado gaúcho. O pai achou que foi tudo combinado, e depois ficou visto que era, pois os caminhões do exercito chegaram quando o avião estava longe, e não conseguiram pegar o político.
Outra vez, o que aconteceu foi que houve o casamento de uma prima minha, as mulheres alugaram chapéu pra ir na festa, e depois do casamento, foram devolver o dito chapéu, minha mãe, minha prima e eu. A casa do comandante do Terceiro Exército é aqui em cima numa esquina, ainda é ali, e minha mãe por brincadeira, já que o chapéu estava em uma caixa, falou pra minha prima: “Onde é que eu coloco a bomba?”. E o guarda que estava de sentinela nos deteve. Veio todo um batalhão que ficava naquela casa, o oficial mandou minha mãe abrir a caixa com todo o batalhão em volta, e ela ria, dizia que era uma brincadeira. Então ela abriu a caixa. O oficial viu que só tinha um chapéu ali, nos xingou e nos mandou embora. [Rindo]
B: Na tua adolescência, quais eram as diversões que Porto Alegre oferecia?
R: A gente ia no cinema, nas reuniões dançantes, tomávamos bastante o drink samba, com gim tônico, era o que saía mais barato. Comprávamos um copo disso e 4 ou 5 tomavam. [risos] O cinema era bem baratinho, às vezes ia o pai, a mãe , todos os filhos, juntava mais gente e ia todo mundo junto. Andar de bicicleta, às vezes, ficávamos a tarde inteira pedalando. Hoje se corre o risco de atropelamento. Às vezes, íamos para a Redenção, mas era muito longe. Hoje é mais fácil, todo mundo tem carro. Outra coisa, quando tinham festas cívicas, como 7 de setembro, todo mundo ia assistir. Não era uma obrigação como é hoje que as professoras têm que dar pontos aos alunos para que eles desfilem. E mesmo depois quando eu não desfilava mais, eu ia assistir os desfiles. Depois tudo isso foi se perdendo. Eu lembro que tinha uma menina que era mascote dos bombeiros , que desfilou anos e anos.
B: Porque ela era mascote?
R: Porque quando ela nasceu faltou luz, e os bombeiros foram atender a essa emergência. Por isso ela virou a mascote. Ela desfilou muitos anos quando criança, usava uma saia vermelha e um casaco branco, como o uniforme dos bombeiros, e a gente achava lindo isso. Íamos ver ela desfilar como mascote. Eu gostaria de saber por onde essa menina anda hoje em dia, pois ela sumiu.
B: Daria uma bela pauta de reportagem, não?
R: Daria sim!
B: Onde era mais comum ir às reuniões dançantes, aqui na capital?
R: Aqui perto [Zona Norte] tinha no Libanesa, tinha no Navegantes São João. Tinha na Sociedade Polônia, na Avenida São Pedro.
B: Quais as principais mudanças que tu notaste em Porto Alegre ?
R: Na cidade, a principal mudança foi a construção dos viadutos. Eu acho que facilitou muito o deslocamento entre um bairro e outro.
B: O que mais te marcou na cidade, algo que se fazia antigamente e hoje não se faz mais?
R: Tinham as corridas de carrinho de lomba na Dom Pedro II. Tinham carrinhos de diversos tipos e tamanhos. Tinha os de força livre, que eram mais trabalhados e tudo, a peculiaridade dos carrinhos é que eram todos feitos em casa. Lá por 67, não lembro o ano certo, nós participamos dessa corrida, fizemos uma equipe, da Rua Marcelo, com dois carrinhos de força livre. Envolveu bastante gente. Nós estávamos todos empolgados com aquilo. A corrida acontecia só um dia por ano, era dado troféu e tudo. O Correio do povo que promovia. Quando chegamos lá, não ganhamos nada, mas pra nossa surpresa, tinha um pessoal da Springer, uma fábrica de refrigeradores, e eles escolheram um amigo nosso pra fazer uma propaganda de um refrigerador, por causa da corrida. Ele apareceu em uma revista depois, para nós foi a glória. Porque naquele tempo não tinha nada de excepcional acontecendo , então, um amigo aparecer em uma revista era a glória.
B: Hoje em dia ainda acontecem essas corridas?
R: Isso aí terminou, porque a cidade foi se modernizando. Só que eu li na internet, uns dias atrás, que um pessoal começou a fazer essas corridas novamente, de brincadeira. E está ganhando notoriedade. Aos domingos o pessoal se reúne para andar de carrinho de lomba.
B: Diga um lugar que marcou tua juventude em Porto Alegre?
R: O centro! Eu adoro o centro! Era onde tudo convergia, antes da chegada dos shoppings. No sábado eu ia para o centro, botava uma roupa bonita, pegava o bonde na Benjamin e ia para lá. Tinham lá os estabelecimentos tradicionais, padarias. Os shoppings terminaram com isso. O centro agora está abandonado. Antes não eram permitidos ambulantes, no máximo algumas esquinas tinham bancas de frutas, e eram poucas. Na Praça da Alfândega tinha um corredor de engraxates, era normal ir lá engraxar os sapatos, até porque se usava mais sapatos que tênis.
B: Qual é o teu sentimento em relação à cidade? O que ela significa pra ti?
R: Ah, significa muito! Eu nasci aqui e eu gosto de Porto Alegre. Eu não vejo Porto Alegre com tantos problemas. Existem problemas? Existem, mas não vejo como uma coisa que afete tanto a minha vida. Não é uma cidade assim tão grande, tem um milhão e pouco de habitantes, o pior dos problemas pra mim é o excesso de carros nas ruas, o trânsito, mas acho que isso é natural por causa do crescimento. Ela [a cidade] melhorou muito desde quando eu era criança.
B: Tem saudades de alguma coisa da cidade?
R: Saudades eu não sinto, foi uma época que vivi, foi agradável. Se eu sentir saudade é disso mesmo, de ir ao centro, caminhar por lá. A vida corrida não nos permite mais.
B: Mas o amor por Porto Alegre continua o mesmo?
R: Adoro Porto Alegre, vou viver aqui até morrer! Levar a vida social é mais difícil do que no interior, mas para ao dia-a-dia não tem como Porto Alegre.
B: Por causa das facilidades?
R: É, e também porque, no meu caso, eu nasci aqui, me criei e fui embora. Depois voltei a viver onde eu cresci e tudo se torna mais familiar. Mas ficarei em Porto Alegre para sempre!

Por Bruna Reis

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A raça do colorado

Entrevistei um torcedor do S.C Internacional, ele se chama Ranieri Tafernaberri Cardozo, é de Gravataí, tem 17 anos e está sempre indo aos estádios para assistir seu time jogar. Perguntei sobre algo que ele viveu e que marcou de certa forma essa história dele com o Internacional. 
Ranieri me contou sobre uma viajem que ele fez à São Paulo para ver a semi-final da libertadores. Ele foi sem saber se ainda teriam ingressos a venda. Ao chegar no local da partida, o cansaço da viagem de 18 horas não o impediu de procurar seu ingresso. A hora do jogo chegava, e finalmente ele conseguiu. "Já era uma grande vitória na noite", disse.
Ao entrar no estádio havia 70 mil torcedores rivais contra dois mil da sua torcida, foi ali que o nervosismo aumentou. Mas ele disse que isso não importava, independente de qualquer coisa ele foi, e iria cantar a apoiar seu time durante os 90 minutos: “Mesmo que tu não sejas escutado pelos jogadores que correm dentro do gramado, tu estás ali, eles estão te vendo e ficam mais confiantes”.
O primeiro gol da partida foi do time adversário, a tensão e a angústia aumentaram, mas ele sabia que nada estava perdido e que ainda tinha tempo.
Ao ver seu time empatar o jogo, ele disse que o som dos 5% dos torcedores que estavam lá e que eram colorados, tomou conta do estádio; Não imaginava que levariam outro gol e que os adversários passariam a frente. O inter se classificaria com esse resultado, mas o nervosismo não passaria enquanto não terminasse a partida: “Tu não sabe se canta,se reza,se pede pra acabar de uma vez, se xinga o juiz, passa uma novela na tua cabeça” declara emocionado.
Quando acabou a partida, hora de festejar e comemorar aquela vitória suada, Ranieri diz que valeu a pena todo o esforço, toda a agonia que viveu ali, ainda mais quando ao comemorar com seu ídolo, o jogador D’alessandro lhe deu um moletom de presente. A felicidade não poderia ser maior.
Para ele, aquele momento foi único.“É aí que se explica o porquê tu é colorado e que vale a pena tudo o que tu enfrentarias pra defender teu clube, nunca mais isso se repetirá, esses momentos foram únicos”, conclui.


Por Jamile Saraiva